O Cloze como Técnica de
Diagnóstico e Remediação da Compreensão em Leitura
A deficiência em compreensão em leitura tem sido apontada
como um dos principais obstáculos para a efetivação do processo de ensino-aprendizagem.
Inúmeras pesquisas têm demonstrado a importância da compreensão em leitura para
um desempenho escolar bem sucedido.
Alguns aspectos relacionados ao texto têm sido apontados
como fatores que interferem na sua compreensão e comprometem o desempenho escolar.
Entre eles, os mais frequentes são o uso de palavras incomuns, o número de
sílabas utilizadas, o tamanho das sentenças, a presença de categorias
gramaticais mais difíceis, a complexidade da estrutura gramatical e a
complexidade das ideias nele contidas.
Vários autores chamam a atenção para as
características dos leitores que seriam “dificultadoras” da compreensão da
leitura. Entre elas, destacam-se as falhas no processo de decodificação, as
carências de vocabulário, leitura oral pobre, deficiência de integração das
informações e de memória, falta de estratégias de aprendizagem adequadas.
Outro aspecto relevante que tem sido ressaltado
refere-se à falta de motivação para a leitura, outra característica frequentemente
associada aos maus leitores. Verifica-se que um círculo vicioso é estabelecido,
visto que aqueles que têm dificuldade para ler evitam as situações de leitura.
Dessa forma, não conseguem obter a prática necessária para ler fluentemente, o
que leva à diminuição da motivação e à relutância para a leitura. Tal situação
ocorre em todos os níveis de escolarização.
Estudos estrangeiros têm demonstrado que a escola não
tem atuado como fonte de incentivo para o desenvolvimento adequado do
comportamento de ler. No Brasil a situação também não é diferente e os estudiosos
da área têm chamado a atenção para o pouco que a escola contribui para o
desenvolvimento do interesse pela leitura, bem como para a formação do leitor.
Na maioria das vezes, a leitura feita na escola é utilizada apenas como recurso
para o ensino gramatical e o treino ortográfico, predominando o distanciamento
de tais práticas com o contexto da vida do aluno.
O sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita, bem
como a posterior autonomia na leitura tem sido associada à interação dos pais
com a escola e, especialmente, com o envolvimento deles nas práticas cotidianas
de letramento. Particularmente a leitura de histórias infantis pelos pais tem
se mostrado como um evento relevante para o interesse da criança por atividades
de leitura e ao sucesso escolar.
No entanto, o que se observa é que as crianças
passam pela escola sem ganhar o necessário domínio da leitura. Considerando que
a escola é a instituição formalmente incumbida de fornecer às pessoas o acesso às
diferentes fontes de informação, garantindo-lhes o necessário crescimento
intelectual e experiencial, é lamentável verificar-se que tal papel não vem
sendo adequadamente cumprido. Assim, a busca de soluções alternativas que
melhorem a qualidade do ensino ministrado nas escolas é urgente e deve ser
direcionada para a conciliação das práticas educativas vigentes com as mais
recentes contribuições da ciência, com o aproveitamento de recursos que podem
ser facilmente utilizados pelos professores e que sejam economicamente
acessíveis.
Nessa direção, o procedimento de Cloze tem se destacado pela sua utilidade tanto
para o diagnóstico como para o desenvolvimento da compreensão em leitura. Além
de unir os aspectos de praticidade e economia de tempo e recursos, várias
pesquisas têm demonstrado sua eficácia no alcance dos objetivos pretendidos.
O Cloze como técnica de
diagnóstico e desenvolvimento da compreensão em leitura
Tal como proposto por Taylor em 1953, o Cloze consiste na organização de um
texto, do qual se suprimem alguns vocábulos e se pede ao leitor que preencha os
espaços com as palavras que melhor completarem o sentido do texto. A
preparação do texto de Cloze segue regras que variam em função do objetivo para
o qual ele será utilizado. Mais frequentemente são usados como parâmetros a
omissão sistemática de palavras num sistema de razão, por ex. todo 5º, 7º ou
10º vocábulo, a supressão de uma dada categoria gramatical (adjetivos,
substantivos, verbos, entre outras) ou ainda a omissão aleatória de 20% dos vocábulos
do texto.
A maioria dos estudos se vale de uma dessas regras,
dentre outras, para a organização do texto de Cloze, havendo também diferenças
em relação a sua apresentação. Geralmente é apresentado por escrito, sendo a
palavra suprimida substituída por um traço, que poderá ser de tamanho sempre
igual, tal como proposto inicialmente por Taylor (1953), ou ainda por um traço
proporcional ao tamanho da palavra omitida, como sugerido por Bormuth (1968),
justificando que dessa forma os resultados obtidos apresentariam umíndice mais
alto de correlação com outras medidas de compreensão em leitura.
Desde que foi introduzido, o procedimento de Cloze tem
sido utilizado como material em pesquisas diversas. Assim, pesquisadores da
área têm recorrido a esse instrumento para avaliar a influência da posição
sintática das palavras na sentença, bem como o valor do conhecimento prévio na
compreensão oral e escrita.
Ao lado disso, pesquisas sobre a legibilidade de
textos e suas características linguísticas tem sido objeto de interesse dos
estudiosos do tema e consideram que o emprego do Cloze como técnica de
desenvolvimento da habilidade de leitura está pautado na visão da compreensão
como um processo que exige a interação entre o leitor e o escritor do texto, na
forma de um contrato implícito entre o esforço do autor para se comunicar e o
do leitor em entender a mensagem. Essa natureza interativa do processo de compreensão
salienta a importância das pistas gramaticais e semânticas do texto, bem como
dos padrões de linguagem e do conhecimento prévio sobre o assunto. Assim, o
Cloze, como tarefa que envolve tanto as expectativas do leitor como as pistas
do texto, tem sido visto como um instrumento apropriado para a avaliação e o
desenvolvimento da compreensão em leitura.
Abaixo deixo algumas sugestões de leitura e
materiais para a intervenção:
Artigos:
Mota MMPE, Santos AAA. O Cloze como instrumento de avaliação de
leitura nas séries iniciais. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de
Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 18, Número 1, Janeiro/Abril de
2014:135-142.
Santos AAA. O Cloze como Técnica de Diagnóstico e Remediação
da Compreensão em Leitura. Interação em Psicologia, 2004, 8(2), p. 217-226.
Santos AAA, Sisto FF,
Noronha APP. TONI
3 - Forma A e Teste de Cloze: Evidências de Validade. Psicologia: Teoria e
Pesquisa Jul-Set 2010, Vol. 26 n. 3, pp. 399-405.
Livro para intervenção:
Alliende F, Condemarin
M, Chadwick M, Milicié N. Compreensão
da leitura (volumes 1, 2, 3) - Fichas para o desenvolvimento da compreensão da
leitura. Editorial Psy II.
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